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Em 1952, o compositor John Cage apresentou uma peça de
vanguarda ao público americano. Entrou no palco, sentou-se à frente do
piano, ligou um cronômetro e, durante exatos 4 minutos e 33 segundos,
ficou em... silêncio. Para o artista, a música eram os leves murmúrios
produzidos pela plateia atônita. Ao final desse tempo, Cage levantou-se e
agradeceu ao público como se tivesse acabado de apresentar uma de suas
obras convencionais. O que o músico queria? Provocar reflexão em meio à
ausência de som! Sua extravagante composição virou um clássico executado
até hoje, batizado de 4’33. Claro, o autor radicalizou uma experiência
que, há séculos, tem operado profundas transformações não só espirituais
e mentais como físicas na humanidade. Prática comum em todas as
religiões, a meditação tornou-se alvo de investigação até da comunidade
científica como caminho de cura para males de vários níveis. Não à toa! O
silêncio é o início de tudo. De onde surgem o bem-estar, a saúde física
e mental, a criação.
Na pausa entre os sons, a mente é ativada e se dá o pico
da atividade cerebral. “Sem dúvida, a prática diária de interiorização
melhora a qualidade de vida”, assegura o psiquiatra Ramesh Manocha, da
Sydney Medical School, na Austrália, pioneira numa recente pesquisa
sobre meditação. “Torna-se fonte de paz interior e neutraliza as tensões
da vida, aumentando a criatividade, a produtividade e a
autossatisfação.” Em seus estudos, o médico encontrou uma relação direta
entre a boa saúde e o estado de silêncio mental. Já se sabe que só a
quietude leva a níveis profundos de autoconhecimento, permite a
construção de sentimentos positivos e fortalece a autoestima. Para
examinar de forma holística, e com metodologia científica, as qualidades
incontestáveis do silêncio, a universidade australiana abriu inclusive
uma clínica de meditação onde os pacientes praticam sahaja ioga e podem
ser avaliados de perto. Depois de algumas sessões, boa parte deles
relatou melhoras significativas.